TDAH É UMA DOENÇA INVENTADA?
Seg, 09 de Agosto de 2010 20:28 Escrito por Dr. Paulo Mattos - ABDA
TDAH É UMA DOENÇA INVENTADA?
Você certamente já leu ou ouviu em algum
lugar que o TDAH “é uma doença inventada pelos laboratórios
farmacêuticos” ou que é uma “medicalização” de comportamentos de
indivíduos que são simplesmente diferentes dos demais. Então vamos aos
fatos:
1) O que hoje chamamos de TDAH é
descrito por médicos desde o século XVIII (Alexander Crichton, em 1798),
muito antes de existir qualquer tratamento medicamentoso. Não existia
sequer aspirina... No inicio do século XX, aparece um artigo científico
publicado numa das mais respeitadas revistas médicas até hoje, The
Lancet, escrita por George Still (1902). A descrição de Still é quase
idêntica a dos modernos manuais de diagnóstico, como o DSM-IV da
Associação Americana de Psiquiatria. Se fosse uma doença “inventada” ou
“mera conseqüência da vida moderna”, você acha que seria possível
atravessar quase dois séculos com os mesmos sintomas?
2) Os sintomas que compõem o TDAH são
observados em diferentes culturas: no Brasil, nos EUA, na Índia, na
China, na Nova Zelândia, no Canadá, em Israel, na Inglaterra, na África
do Sul, no Irã... Já chega? Pois se fosse meramente um comportamento
secundário ao modo como as crianças são educadas, ou ao seu meio
sociocultural, como é possível que a descrição seja praticamente a mesma
nestes locais tão diferentes?
3) Se o TDAH fosse meramente “um jeito
diferente de ser” e não um transtorno mental, por que os portadores,
segundo os dados de pesquisas científicas, têm maior taxa de abandono
escolar, reprovação, desemprego, divórcio e acidentes automobilísticos?
Por que eles têm maior incidência de depressão, ansiedade e dependência
de drogas?
4) Se o TDAH fosse “uma invenção da
indústria farmacêutica”, você esperaria que a Organização Mundial de
Saúde – órgão internacional máximo nas questões relativas à saúde
pública sem qualquer vinculação com a indústria farmacêutica – listaria o
transtorno como parte dos diagnósticos da Classificação Internacional
das Doenças não só na sua última versão (CID-10) como nas anteriores
(CID-8 e CID-9)? Pois é, ele está lá no capítulo dos transtornos mentais
– vide o site http://www.datasus.gov.br/cid10/v2008/cid10.htm
5) Se o TDAH fosse secundário ao modo
como os pais educam seus filhos, por que motivo as famílias biológicas
de crianças com TDAH que foram adotadas têm prevalências (taxas) de TDAH
bem maiores do que aquelas encontradas nas suas famílias adotivas? A
única explicação possível: é um transtorno com forte participação
genética.
6) Quantos artigos científicos você acha
que já foram publicados demonstrando alterações no funcionamento
cerebral de portadores de TDAH? Mais de 200 (você leu certo). Vale
também lembrar que os achados mais recentes e contundentes são oriundos
de centros de pesquisa como o National Institute of Mental Health dos
EUA impossibilitados de qualquer contato com a indústria farmacêutica. O
fato de não termos uma alteração cerebral que seja “marca registrada”
do TDAH não invalida nem a sua base neurobiológica, muito menos a sua
existência. Se fosse assim, não existiria a Esquizofrenia, o Autismo, a
Depressão, o Transtorno de Humor Bipolar entre outros, já que nenhum
desses tem uma alteração que seja “marca registrada” da doença.
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